No Topo do Monte Roraima: um Trekking ao Mundo Perdido

VIAGEM À AMAZÔNIA – Parte 8 (final)


28/05/2012 - Aquela viagem de “descobrimento” da região amazônica já se aproximava do fim. Um mês inteiro se passara desde que eu tinha partido do Rio Grande do Sul e pousado em Belém para iniciar uma pequena jornada em terras distantes, uma aventura por cidades, estradas, florestas e rios do norte do Brasil. E depois de ingressar em território venezuelano para uma visita ao Salto Angel, permaneci ainda uma última semana na Venezuela, para então fechar a viagem com chave de ouro em um trekking de seis dias até o topo do Monte Roraima, a extraordinária fortaleza de 2.810 metros de altitude localizada na tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana.

Foto 214 - O Monte Roraima, desde sempre alvo de lendas e superstições, faz parte de uma estrutura geológica considerada como sendo o que há de mais antigo no planeta. Estima-se que tenha se formado há cerca de 2 bilhões de anos, tempos em que a  América do Sul e a África nem tinham se separado e ainda formavam o grande continente Pangeia.


Foto 215 - Apesar de estar localizado em uma região remota da América do Sul, o Monte Roraima tem hoje acesso relativamente fácil pelo lado venezuelano. A partir da cidade de Santa Elena de Uairén, seguimos em veículo 4x4 até uma comunidade indígena que serve como base de apoio ao trekking.


Foto 216 - O início da caminhada de três dias pela Gran Sabbana venezuelana até o topo do Monte Roraima. A trilha inicia no vilarejo indígena de Paraitepuy, distante 26 km da base da montanha.


Foto 217 - Tudo pertence ao Parque Nacional Canaima, uma área de proteção dentro do território venezuelano.


Foto 218 - Ao fim do primeiro dia de caminhada já avistávamos claramente o contorno característico dos Tepuys, nome indígena dessas montanhas de topo plano, dentre as quais o Monte Roraima se destaca.


Foto 219 - O amanhecer no acampamento, agora com a visão clara do Tepuy Kukenan, montanha vizinha ao Roraima, mas cuja via de acesso é bem mais difícil e perigosa do que aquela que estávamos trilhando.


Foto 220 - Partimos sem demora para o segundo dia de caminhada, um pouco mais puxado do que o primeiro devido ao desnível a ser vencido. Cada vez mais os imponentes paredões do Monte Roraima se faziam presentes no nosso campo de visão.


Foto 221 - Na tarde do segundo dia chegamos ao acampamento base, localizado bem aos pés do Monte Roraima.


Foto 222 - Com o acampamento montado, tivemos o resto da tarde livre para um merecido descanso, admirando a beleza da montanha que estávamos prestes a conquistar.


Foto 223 - Durante os momentos que sucedem ao pôr-do-sol, a imagem do Tepuy Roraima, quase sempre envoltos em nuvens, acaba criando um cenário misterioso e sombrio. Hora de nos recolhermos às barracas, em busca de uma boa noite de sono.


Foto 224 - Manhã do dia 30/05: chegara finalmente o momento do ataque final ao topo do Monte Roraima. Os paredões vistos de baixo eram bastante intimidadores, dando a impressão de serem intransponíveis.


Foto 225 - Mas há uma saída, ou melhor, uma entrada. Uma passagem natural à beira de um despenhadeiro no lado sul, conhecida como la rampa, a única rota não técnica de subida, exigindo do caminhante apenas algum preparo físico, um bom par de calçados e disposição para encarar eventuais banhos gelados - rebarbas das cachoeiras que despencam por sobre a trilha.


Foto 226 - Ainda bem que la rampa está lá para nos dar uma ajudinha, porque se fosse para enfrentar falésias retilíneas de até 1.000 metros de altura, os não alpinistas feito eu dariam com a cara na porta.


Foto 227 - O trecho final não chega a ser extremamente difícil, mas são 2,5 km de subida forte, com alguns pontos bastante escorregadios e praticamente verticais. Hora de acionar a “tração nas 4 patas”.


Foto 228 – De vez em quando, uma olhada para cima a fim de admirar o imenso paredão que chegava a sumir por entre as nuvens.


Foto 229 - Cerca de 4 horas após a partida do acampamento base, os últimos metros de subida foram vencidos e lá estava eu, no topo do Monte Roraima, que por sinal tem um aspecto bem diferente daquilo que se imagina ao observá-lo a partir de baixo.


Foto 230 - Quando foi escalado pela primeira vez, em 1884, o topo do Monte Roraima foi descrito por seus exploradores como um dos lugares mais incomuns do planeta, repleto de espécies vegetais e formações rochosas assustadoras que chegavam a lembrar dinossauros.


Foto 231 - Todo esse cenário acabou inspirando o clássico livro “Mundo Perdido”, escrito em 1912 por Arthur Conan Doyle (mesmo autor de Sherlock Holmes) que relata uma expedição ao coração da selva amazônica em busca de um grande mistério oculto: um lugar onde tudo permanecia como na pré-história e dinossauros e outras criaturas jurássicas ainda sobreviviam.


Foto 232 - Mas no quesito “criatura jurássica” o máximo que encontramos foi este simpático sapinho negro que não salta, apenas caminha tal como um jacaré. A espécie só é encontrada por aqui.


Foto 233 - Isolados no alto do platô, a fauna e a flora do Monte Roraima enfrentam condições bem diferentes daquelas vistas nas savanas e florestas tropicais encontradas na base da montanha.


Foto 234 – A vida por aqui acabou então se moldando sem interferências externas às condições climáticas e geológicas às quais sempre estiveram submetidas, o que veio a gerar nas espécies locais um elevado grau de endemismo.


Foto 235 - Passamos o resto daquele dia e parte do seguinte explorando o topo do Monte Roraima, mas não tivemos muita sorte com o tempo, que teimava em permanecer totalmente encoberto. Em uma rara ocasião, enquanto estávamos próximos à borda, o vento afastou as nuvens e por instantes foi possível ter uma dimensão do abismo que nos cercava.


Foto 236 - Durante nossas caminhadas pelo topo do Roraima, passamos ainda por essas piscinas naturais, conhecidas localmente como “jacuzzis”. Nada que se possa chamar de banho relaxante, no entanto, considerando a temperatura da água.


Foto 237 - Acampamento no alto do Monte Roraima, em local protegido do vento e da chuva. São bondosamente apelidados de “hotéis” pelos guias.


Foto 238 - No quinto dia da aventura iniciamos a descida, caminhando até o local do primeiro acampamento. Em nossa companhia iam sempre um guia e alguns carregadores, ou porteadores, que são em sua maioria indígenas locais, da etnia Pemon, agenciados pela empresa de turismo sediada em Santa Elena.  


Foto 239 - Os porteadores são responsáveis pelo manuseio de toda a tralha de uso comum do acampamento: levam barracas, utensílios de cozinha e comida, tudo acomodado em mochilas artesanais de vime, nem um pouco anatômicas, diga-se de passagem.


Foto 240 - E à medida que trilhávamos o caminho de volta até o vilarejo de Paratepuy, a imagem de um já distante, mas ainda majestoso Monte Roraima foi ficando registrada como a despedida daqueles 35 dias de viagem pela Amazônia.


Foto 241 - De Paratepuy a Santa Elena, e então até Boa Vista, tudo transcorreu em sequência, no mesmo dia do encerramento do trekking. Em Boa Vista embarquei em um voo noturno, para então passar o resto daquela noite e boa parte do dia seguinte cruzando o Brasil de ponta a ponta pelos ares. Cheguei ao Rio Grande do Sul com alguns músculos doloridos, com a pele tostada pelo sol e marcada por picadas de insetos desconhecidos. Mas dentre todas as marcas que trouxe comigo, o sentimento de satisfação pessoal era a cicatriz mais evidente: a Amazônia tinha agora as minhas pegadas!


Comentários

  1. show Robson...Parabéns, você traz para nós seus amigos, parte desse nosso Brasil que ainda não conhecemos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu Arlindo! Pra mim é uma satisfação dividir com o pessoal!

      Excluir
  2. Bom dia Robson, esta nova reportagem foi uma festa para os meus olhos, continue fazendo lindas viagens e compartilhe com a gente, parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Amélia! Pode deixar, no que depender de mim vou continuar sempre. Abraço!

      Excluir
  3. Parabéns pela narrativa, tem muito sentimento

    ResponderExcluir
  4. parabens Robson por nos mostrar a paisagem magnifica

    ResponderExcluir
  5. MARIA VACARELI29/02/2016, 18:46

    Muito lindo o Monte Roraima e suas fotos ajudaram a mostrar maravilhosa paisagem.
    Obrigada por compartilhar

    ResponderExcluir
  6. Tanto lugar para conhecer no brasil,,, parabéns !!!!

    ResponderExcluir
  7. Cara, eu to impressionado com suas fotos e relatos! Inspirador! EU PRECISO CONTEMPLAR ESSA BELEZA!
    Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado Raphael. E não tenha dúvidas, vale mesmo a experiência de pisar o Monte Roraima com seus próprios pés!

      Excluir

Postar um comentário