De Cambará do Sul a São José dos Ausentes

UMA VIAGEM DE MOTO AOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA – Parte 4

Esta é a continuação da parte anterior: Cânion Fortaleza e Itaimbezinho

Ainda em Cambará do Sul, encontrei um camping próximo à cidade para passar a terceira noite da viagem. No dia seguinte, ainda cedo, segui por uma estradinha sofrível até São José dos Ausentes. Esse trecho estava realmente ruim, e por conta disso, eu raramente ultrapassava os 30 km/h. Tentando ver a situação pelo lado bom, isso pelo menos permitiu que eu apreciasse melhor a beleza natural dos campos por onde passava. As paradas para fotografias eram constantes. 




Em certa hora, viajando atento à estrada, desviando das pedras assassinas que poderiam rasgar o pneu da moto, eis que sou ultrapassado por um carro que me fez comer poeira enquanto se afastava a toda velocidade. Diante da cena, pensei comigo mesmo: “tudo bem meu chapa, você pode se dar esse luxo, afinal de contas tem um pneu sobressalente, o que não é o meu caso”. A partir dali, sigo por cerca de meia hora, quanto de repente me deparo com o mesmo carro, agora parado na estrada e seu motorista às voltas com o macaco, preparando-se para trocar um pneu recém furado. Dessa vez pensei: “é colega, já queimou seu cartucho, agora estamos em iguais condições, é melhor você ter mais cuidado de agora em diante”. O curioso é que até o final do trajeto não voltei a ser ultrapassado pelo motorista em questão.


Chegando à cidade de São José dos Ausentes, parei em um posto de gasolina, que era o único local onde aparentemente obteria informações que precisava sobre a continuação da viagem. É verdade que eu tinha um bom mapa, quase tão imprescindível quanto gasolina, mas o fato é que sem os habitantes locais para lhe dar informações sobre os rumos a tomar nessas encruzilhadas da vida, a chance de se perder o ir parar em lugares totalmente diferentes daqueles planejados é considerável. E foi exatamente o que aconteceu com dois irmãos que viajavam em duas “gaiolas” (carro totalmente preparado para trilhas, feito a partir dos chassis de um fusca ou brasília). Encontrei um deles nesse posto de gasolina, que veio imediatamente me perguntar se eu havia visto seu irmão em algum lugar. Eles tinham se desencontrado quando um deles precisou fazer uma parada para manutenção do veículo após acertar em cheio um barranco na saída de uma curva. Enquanto conversávamos ali no posto, eis que chega seu irmão, que em sua procura, já tinha rodado uns bons 50 km campo adentro. Fui fazer um lanche enquanto o irmão do carro avariado concluía o conserto, tentando arrancar um parafuso danificado à base de sonoros golpes de marreta e talhadeira – as ferramentas universais do mecânico. Com o carro novo em folha, os dois se mandaram novamente em direção a não sei onde. 





Segui rodando por estradas de terra, desta vez em excelentes condições, que me permitiram impor à moto velocidades um tanto elevadas, no melhor estilo “Rali dos Sertões”. O destino dessa vez eram os campos mais altos do Rio Grande do Sul, onde o Pico Montenegro culmina com seus mais de 1.400 metros de altitude. Antes dele, passei por dentro de propriedades particulares, onde tinha ouvido falar de uma belíssima cachoeira, cenário de uma dessas novelas que passa atualmente na Globo. No caminho, entre uma porteira e outra que precisei abrir, acabei dando de cara com um touro que parecia estar guardando o caminho contra possíveis invasores, tamanha imponência e carranca do bichano. Acho que acabei encarando-o demais enquanto tirava uma foto sua, pois vi que o bicho me olhou nos olhos e deu uma ciscada do chão com a pata dianteira. Imediatamente concluí que aquilo não poderia ser bom sinal, sendo assim, tratei de montar na moto e me mandar bem rápido, antes que ele me convidasse para brincar de toureiro.




Após desvencilhar-me do touro de guarda, segui pela estrada de terra que levava a uma casinha de madeira onde o dono daquela propriedade morava. Com a maior disposição ele me explicou como chegar até a cachoeira e me mostrou dois caminhos: um para uma vista panorâmica da queda d’água e outro por onde eu pudesse descer até a base da cachoeira, caso quisesse entrar no rio. Segui pelo primeiro caminho e realmente lá estava ela, bela e imponente como várias outras cachoeiras que já havia visto nos últimos dias. Tirei algumas fotos e como não estava a fim de retornar todo o caminho até a outra trilha que levaria à base da cachoeira, resolvi tentar encontrar por ali mesmo um caminho alternativo por onde eu pudesse entrar no rio. Acontece que a trilha margeava o rio pelo alto de um barranco, justamente o motivo que levara o dono da fazenda a me aconselhar contornar pelo outro lado do rio, onde o acesso seria mais fácil. Foi quando avistei uma árvore bem à margem do barranco, com seus galhos projetando-se em direção ao rio. Vi aquilo e resolvi que aquele seria meu acesso até lá embaixo. Subi na árvore e caminhei em direção à ponta de um dos galhos, enquanto me agarrava a outro galho logo acima. E foi quando percebi o barulho do galho abaixo dos meus pés rachando com meu peso. Não deu outra, o galho partiu-se e lá me fui, caindo e rolando barranco abaixo, tentando valentemente proteger a máquina fotográfica à tira-colo. Fui aterrissar bem à margem do rio. O importante é que cheguei onde queria. Deixei minhas roupas em um canto e fui para baixo daquela cachoeira de águas mornas. Desta vez, porém, não pude me dar ao luxo de praticar o naturismo, já que a cachoeira era um ponto turístico em evidência e eu não estava interessado em virar atração junto com ela. Felizmente estava usando uma de minhas cuecas novas naquele dia.





Pico Montenegro, o ponto mais alto do RS


Depois de um bom banho, deixei aquela bela cachoeira para trás e segui viagem para o teto do Rio Grande do Sul, o Pico Montenegro, ainda em São José dos Ausentes. No caminho, acabei encontrando uma turma de Florianópolis, também se aventurando de moto por aqueles lados. Estavam a caminho de uma pequena pousada, localizada bem próximo ao Montenegro. Por conveniência, conversei com o dono do estabelecimento e acabei arranjando por ali mesmo um lugar para armar a barraca naquela noite. Ao contrário dos canyons nos Aparados da Serra, na visita ao ponto mais alto o estado não havia parque, fiscais, demarcações ou trilhas pré-definidas, apenas bois e vacas pastando num campo que rodeava o cume e a beira dos canyons. Sim, ali também se viam abismos e paredões de pedra, quase tão imponentes quanto os anteriormente visitados, já que boa parte da fronteira entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina é demarcada por esses gigantes. Sendo assim, pude ir com a moto até a beira do precipício, tendo que desviar apenas de algumas cercas de arame farpado, colocadas ali para prevenir que algum bovino com mal súbito de depressão cometesse suicídio, jogando-se penhasco abaixo. E ali estava eu, mais uma vez contemplando um visual magnífico naqueles campos de cima da serra.








Comentários

  1. Oi Robson!

    Adorei teus artigos. Escreves muito bem.
    Sou advogada e curso Mestrado em Direito Ambiental na UCS em Caxias.
    Meu projeto de dissertação é sobre as potencialidades turísticas e ambientais dos campos de cima da serra. Quero demonstrar que é possível sim, através da utilização sustentável do ambiente pelo ecoturismo ou turismo rural, haver desenvolvimento econômico regional e que a instalação de Usinas de Celulose e monocultura de Pinus, estaria a desestruturar ecologica e economicamente a região.
    Todo este lero, lero é para te pedir um auxílio em minha pesquisa. Pretendo mapear detalhadamente os 7 municípios pertencentes aos Campos de cima da Serra e visitar pessoalmente todas as fazendas que desenvolvem turismo rural e ecoturismo. Para esta tarefa terei o prazo de 8 meses e procuro patrocínio de alguma empresa. terias alguma idéia??

    Abraços,

    Nara Orci
    51. 9844-3111
    51. 3476-8188

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  2. Parabens pelo relato !
    Aqui Elvis do www.seguirviagem.com.br
    Somos um grupo de amigos Motociclistas de Porto Alegre e região metropolitana,que tem como lazer viajar fazendo EcoMotoTurismo.
    Dia 16/08/2008 estaremos novamente em Cambara e região.
    Elvis
    ecomototurismo@hotmail.com

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  3. Falae Billie é o RCARNEIRO do M@D.
    Ae cara, como já disse no M@D, eu sou fã..huahuahuahuahua.
    Seu relato tá foda camarada, e espero e março de 2009 fazer o meu igual ou quem sabe melhor...rssss

    Recebi seus arquivos e hoje a noite vou colocar no meu site para download.
    Abs, e mais uma vez parabéns.

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