Santarém, Alter do Chão e os Encantos do Tapajós
VIAGEM À AMAZÔNIA – Parte 5
Três dias depois de
zarpar de Belém, o barco Nélio Correa finalmente
atracou em Santarém no início da
noite de 11/05/12. Era hora de desamarrar a rede do convés, botar a mochila nas
costas e voltar à terra firme. O clima estava muito agradável e havia
bastante gente pelas ruas, relaxando e aproveitando a brisa fresca à beira do
cristalino Rio Tapajós, que nesse
ponto junta-se às águas marrons do Amazonas, formando o fenômeno do “encontro
das águas” bem em frente à cidade.
Além da cidade de
Santarém, uma das mais antigas e significativas da região amazônica, meus
planos por aqui incluíam também uma visita às comunidades ribeirinhas na Floresta Nacional do Tapajós, assim
como Alter do Chão, eventualmente
conhecida como "Caribe brasileiro", ou ainda, “a praia de água doce
mais bonita do mundo” como já chegou a afirmar um jornal britânico.
Foto 121 - Tal como outras cidades
da Amazônia, Santarém vive bastante em função do rio que a margeia. O
transporte fluvial é, portanto, muito comum e os portos estão sempre bem
movimentados.
Foto 122 - Há também portos
menores, alguns até improvisados, onde atracam embarcações de menor porte.
Foto 123 - O período das chuvas
ocorre no chamado "inverno amazônico", que vai de dezembro a maio. Naquele
maio de 2012, os reflexos de uma temporada histórica de chuvas ainda eram bem
evidentes nas ruas alagadas de Santarém.
Foto 124 - Caminhar pela avenida à
beira do Rio Tapajós pode ser considerado um passatempo e tanto. Dentre as
centenas de barcos que normalmente são vistos por lá, um ou outro acaba
invariavelmente se destacando na multidão. Foi o caso desse aí, o “Ana Beatriz”,
que em 2009 transportou o Príncipe Charles da Inglaterra, segundo me contou um
orgulhoso funcionário.
Foto 125 - Nesse dia a “celebridade”
em questão recebia um trato na sua pintura.
Foto 126 - Em Santarém, tão característico
quanto um passeio à beira rio, é uma caminhada pelo mercado municipal da cidade, onde bancas devidamente abastecidas
com os infalíveis remédios naturais da Amazônia têm espaço garantido.
Foto 127 - Sem esquecer, é claro,
dos artesanatos, das frutas e dos peixes. Aliás, peixes por toda parte!
Foto 128 - E se estamos falando de Santarém,
outro item abundante é a farinha de
mandioca, comercializada em um setor do mercado inteiramente dedicado a
esta unanimidade na mesa dos paraenses.
Foto 129 - Tem da amarelinha, da
branquinha, da grossa ou da fininha. Às compras então! Afinal, eu tinha
encomendas lá do sul para atender.
Foto 130 - Agora vamos a Alter do Chão. Partindo do centro de Santarém,
peguei um ônibus que, após uma hora de viagem, me deixou bem no centro da comunidade.
Como já devem ter percebido, a pracinha e o banco submersos sugerem que a
temporada das chuvas talvez não seja a época mais adequada para conhecer as
famosas praias de rio, que acabaram transformando este bucólico lugar em uma das principais atrações turísticas do
Pará.
Foto 131 - Portanto, não foi dessa
vez que tive a chance de admirar, em sua plenitude, a beleza do dito “Caribe
brasileiro”, apelido que Alter do Chão recebeu em função das lindas praias de
areias brancas que eventualmente se formam junto àquelas cabanas quando toda essa água baixa.
Foto 132 - Durante minha estadia no
vilarejo, acabei conhecendo um barqueiro que me fez rever os planos de voltar a
Santarém de ônibus. Ao invés disso, acabei fechando com ele um passeio de dois
dias pelos arredores, ao fim do qual ele me levaria em seu barco até as
comunidades ribeirinhas do Tapajós, uns 30 km rio acima.
Foto 133 - Então, no dia seguinte,
conforme combinado, fui encontrá-lo bem cedo no atracadouro de Alter do Chão, onde
ele já me esperava para iniciarmos o passeio.
Foto 134 - Passamos por alguns igapós, como são chamadas essas áreas
de floresta alagada, aliás, uma boa pedida para a época das chuvas. Nos igapós encontramos
um tipo característico de vegetação da floresta amazônica, adaptada aos
terrenos alagadiços que normalmente estão nas áreas mais baixas e próximas aos
rios.
Foto 135 - Cuidado com a cabeça! Os
igapós, não são exatamente lugares de fácil acesso.
Foto 136 - Naquela mesma tarde, depois
de eu ter sido convidado pelo meu guia para participar de um almoço em família
na casa dele em comemoração ao dia das mães, partimos rumo às comunidades ribeirinhas do Tapajós.
Foto 137 - E após de três horas de
navegação rio acima, chegamos em Maguari, comunidade que subsiste da Floresta
Nacional do Tapajós.
Foto 138 - Uma das atividades dos
ribeirinhos locais é a extração de látex
das seringueiras, árvores nativas da região.
Foto 139 - Além de vender em
Santarém parte do látex extraído em suas seringueiras, a comunidade Maguari está envolvida na fabricação de artefatos de
“couro ecológico”, onde a seringa entra como matéria-prima principal para
fabricação de itens como bolsas, sandálias, bolas, etc. O chamado “couro
vegetal”, antes usado apenas para fabricação de itens de primeira necessidade
dos seringueiros acabou ganhando espaço na indústria da moda para confecção de
roupas e acessórios diversos.
Foto 140 - Com vocês, a seringueira, uma árvore nativa da
Amazônia, que no final do século XIV marcou época como protagonista de um dos
mais notórios ciclos de desenvolvimento do Brasil. O ciclo da borracha, período compreendido entre 1870 e 1920 representou
um divisor de águas para o desenvolvimento da região norte do país. Por causa
do extrativismo do látex brasileiro,
o progresso chegou pela primeira vez à região. As coisas ficaram assim enquanto
a nossa borracha não possuía qualquer concorrente no mundo, mas lá pelas
tantas, os ingleses tiveram a feliz ideia (para eles, no caso) de levar sementes
para serem plantadas na Malásia, então colônia britânica. E aos brasileiros só
restou lamentar profundamente o dia em que se constatou a excelente adaptação
das nossas seringueiras àquele país, onde passaram a produzir até mais do que
suas progenitoras brasileiras.
Foto 141 - Foi conhecendo essas
histórias e andando livremente pela comunidade que passei o resto daquele dia
em Maguari. Fiquei alojado na casa de
uma família local, dormindo na mesma rede usada dias antes durante a viagem de barco pelo Rio Amazonas.
Foto 142 - À medida que a noite se
aproximava, o sol ia aos poucos se escondendo por trás do Rio Tapajós, formando um belo quadro emoldurado pelas árvores da
floresta. Foi com essa imagem na cabeça que acabei adormecendo na minha rede.
Foto 143 - Para a manhã seguinte programamos uma caminhada pela mata primária, onde uma trilha de 9 km levaria até a Sumaúma gigante, a maior dentre todas as árvores da região.
Foto 144 - A caminhada pela floresta é feita em meio a uma infinidade de
espécies da fauna e flora amazônicas. Vimos alguns animais, incluindo uma
enorme serpente (coisa de filme de Tarzan) que infelizmente não consegui
fotografar. De outros encontramos apenas os sinais, como pegadas e tocas
abandonadas, ou ouvimos seus sons, que o guia quase sempre conseguia
identificar.
Foto 145 - Três horas de caminhada
pela floresta, um banho de chuva e algumas picadas de mosquito depois, chegamos
à grande atração da trilha: uma árvore
gigante da espécie Sumaúma, apelidada de “vovó” por causa de sua idade,
estimada entre 900 e 1.000 anos. Apesar da Sumaúma não ser a campeã mundial em altura,
na categoria largura de tronco ela certamente entra com força na disputa pelo
título.
Retornamos no meio da tarde à vila de Maguari. Na manhã seguinte eu deveria estar a postos para não perder o único ônibus do dia para Santarém, que segundo meu anfitrião, passaria por uma estradinha ali perto, em algum momento por volta das 4:30 da manhã.
Foto 146 - O dito ônibus tinha como
destino final Santarém, mas fazia escala em Belterra, uma cidade com jeitão de subúrbio norte americano no
coração da Amazônia. Tal semelhança não é mera coincidência, já que a origem desta
cidade está ligada ao sonho do visionário Henry
Ford, empreendedor da indústria automobilística que em meados dos anos de 1930
lançou na Amazônia brasileira um audacioso projeto que ficaria conhecido como Fordlândia. O plano de Ford era produzir
por aqui toda a borracha necessária para a confecção dos pneus da sua fábrica
de automóveis, sem depender da importação de látex originário das colônias
britânicas na Ásia.
Foto 147 - Essa caixa d’água é hoje um dos símbolos maiores
das origens de Belterra, uma cidade montada em plena selva pelos norte americanos,
com materiais trazidos de navio dos Estados Unidos. Surpreendentemente, era o
único lugar em toda a Amazônia que em plena década de 30 contava com hospital, farmácia,
telefonia e escola, tudo para abrigar as famílias dos empregados a serviço do
projeto de Henry Ford.
Foto 148 - Entre 1938 e 1940,
Belterra foi considerada a maior produtora de látex do mundo. Mas adversidades com os
empregados brasileiros que não se adaptaram ao modo americano de trabalho,
aliado ao ambiente hostil da floresta amazônica foram fazendo o projeto de Ford
perder forças. O baque final veio com o surgimento da
borracha sintética, que mudou completamente o cenário da indústria e fez os
investimentos em Belterra perderem o sentido. A companhia Ford acabou então desistindo
de vez do seu projeto, deixando para trás toda uma cidade junto com milhões de seringueiras plantadas por eles e que, por alguns anos, chegaram a mover a indústria automobilística
norte americana.
Como sempre, lindas fotos e informativo relato. Luli e eu lamentamos muito a falta de tempo para a trilha da Sumaúma gigante... :(
ResponderExcluirEu também lamento não ter visto a praia de Alter do Chão. Pronto, ambos já temos boas desculpas para retornar.
ExcluirOla Robson, mais uma reportagem que me surpreende de tanta beleza, adorei!
ResponderExcluirAmélia 19/12/13
Obrigado Amélia. Em breve as partes seguintes do relato estarão aqui.
ExcluirOi, Robson. Tudo bem? :)
ResponderExcluirSeu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Natalie - Boia
Fantástico, essa viajem de Belém a Santarem de barco é meu sonho!
ResponderExcluirVá em frente Gilson, é uma aventura bem viável e diversão garantida!
ExcluirNasci em Manaus porém cresci em STM, minha cidade do coração, gostei muito do seu blog, quando for novamente nessa região vá nos meses de set, out e nov e visite As regiões do Arapiuns, Praia de Ponta de pedras, Aramanai, alé de Alter do chão e muito lindo. Tenho uma tia que tem uma pousada na vila de Cachoeira o Aruã, ótimo passeio.
ResponderExcluirObrigado pelas dicas, Marcos. Em uma próxima oportunidade vou tentar ir no período da seca, para aproveitar melhor as praias!
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