Lampião do Cangaço e Padre Cícero de Juazeiro
UMA VIAGEM DE CARRO PELO NORDESTE DO BRASIL - PARTE 03
Saindo da Paraíba, reingressamos em Pernambuco, percorrendo suas estradas em direção ao interior do estado. O próximo destino seria a cidade de Serra Talhada, lugar fortemente ligado à imagem do cangaço, um movimento surgido no nordeste brasileiro entre o fim do século 19 e o início do século 20. Grupos de homens armados, motivados principalmente pelas péssimas condições sociais da região, vagavam pelo agreste e sertão nordestinos, normalmente espalhando o medo por onde passassem.
Foto 052 – Um destes cangaceiros, em especial, tornou-se personagem popular: Virgulino Ferreira da Silva, ou se preferirem, Lampião, o rei do cangaço.
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Foto 053 – Os cangaceiros andavam sempre em bandos, promovendo saques em fazendas e cidades. Apesar disso, havia quem os respeitasse - normalmente as partes mais humildes da população.
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Foto 054 – Antiga estação ferroviária de Serra Talhada. Apesar de a cidade estar ligada à imagem do cangaço, os homens deste movimento não possuíam residência fixa, mas viviam em constante fuga da polícia, que vinha sempre no seu encalço.
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Foto 055 – Durante as fugas, para se protegerem da vegetação cheia de espinhos da caatinga, usavam roupas e chapéus de couro.
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Foto 056 – A imagem do cangaceiro sempre foi um pouco vinculada com a idéia de justiceiro ou vingador, com “um que” de revolucionário. Hoje é um dos ícones da cultura nordestina, representando a bravura e a garra daquele povo.
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Foto 057 – O cangaceiro é também vinculado ao xaxado, uma dança típica da região.
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Foto 058 – Quando estivemos no museu do cangaço em Serra Talhada, coincidentemente havia uma reportagem sobre esta dança sendo produzida.
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Foto 059 – O xaxado foi criado pelos próprios cangaceiros, e costumava servir como entretenimento e celebração por suas vitórias.
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Foto 060 – O nome da dança vem do som que as sandálias de couro faziam ao se arrastarem com o chão seco. Só imagino a poeira que devia levantar.
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Foto 061 – A dança logo se tornou popular entre todos os bandos de cangaceiros. Como no início ainda não havia mulheres no cangaço, ela era praticada apenas por homens.
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Foto 062 – A presença feminina só foi surgir depois que Maria Bonita e outras mulheres passaram a integrar o bando de Lampião.
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Foto 063 – Alguns passos da dança assemelham-se muito com gestos de batalha.
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Foto 064 – As letras serviam para insultar os inimigos ou enaltecer as vitórias.
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Foto 065 – Originalmente, tudo era feito sem acompanhamento musical. As batidas dos pés e das mãos marcavam o ritmo, juntamente com os gritos dos cangaceiros. Hoje em dia, a música é muito bem vinda, e só enriquece a expressão cultural.
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Foto 066 – Até poucas décadas atrás, o xaxado não era considerado propriamente uma dança, mas uma espécie de expressão marginal, não sendo bem aceita pela sociedade.
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Foto 067 – Mas hoje ela ganhou outro sentido. Não é mais praticada por cangaceiros, mas por dançarinos orgulhosos por perpetuarem o rico folclore pernambucano em Serra Talhada.
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Foto 068 – E eis que chega novamente o momento de cruzar fronteiras. Dizemos “até logo” para Pernambuco e ingressamos no Estado do Ceará.
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Foto 069 – Se considerarmos que nem mesmo ao volante os gaúchos largam suas cuias de chimarrão, podemos concluir que eu tinha direito a uma equiparação.
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Foto 070 – Igualmente refrescante, o refrigerante de caju, que descobri cair muito bem com arroz, feijão e farinha de mandioca.
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Foto 071 – Em Juazeiro do Norte, parando para saudar o Sr. Jumento Nordestino, vulgo jegue. Ainda muito utilizado pela população no trabalho e no transporte.
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Foto 072 – A cidade de Juazeiro do Norte, por sinal, é nacionalmente conhecida como "a terra do Padre Cícero". Aos olhos do povo nordestino, é uma cidade santuário.
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Foto 073 – O “Padim Ciço” causa enorme devoção, sendo responsável por uma das maiores romarias do Brasil. Grande benfeitor de Juazeiro do Norte, transformou-se em uma espécie de santo popular.
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Foto 074 – Seu trabalho de liderança junto à população sertaneja misturou-se ao misticismo local. Muitas curas são atribuídas a ele pelo povo da região.
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Foto 075 – O casarão do Horto, antiga residência do padre, hoje transformada em museu.
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Foto 076 – A estátua do Padre Cícero, com seus
Era este o local escolhido por ele para fazer seus retiros espirituais.
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Foto 077 – E foi também o local escolhido pelo pneu para furar.
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Próxima parte:
O refrigerante de caju é encontrado do Ceará para cima e é conhecido como cajuína ("A cajuína cristalina em Teresina" - Caetano Veloso).
ResponderExcluirHá muitos fabricantes, com gostos e qualidades diferentes.
Oi Léo, a cajuína é uma bebida artesanal e típica dos estados do Ceará e Piauí e é o resultado do processamento do suco de caju natural, já o refrigerante de caju é o resultado da adição de essência e suco de caju com água gaseificada e de um processo industrial. Eles se diferenciam em gosto e forma de produção sendo a cajuína infinitamente mais gostosa, qdo segue a formula correta de produção, o que não faz do refrigerante de caju algo ruim.
ExcluirEspero ter esclarecido esta dúvida que existe até mesmo aqui no sul do Ceará e tb Fortaleza devido ao rápido desaparecimento do processo artesanal da cajuína e sua crescente substituição pelo refrigerante de caju.
Obrigado pelo esclarecimento Leopoldo!
ExcluirIsso é uma delícia, é a cajuína, com muito gelo num dia de calor... não há bebida mais saborosa. Deve fazer uns 5 anos que não tomo.
ResponderExcluirCom relação ao cangaço é interessante, o sujeito era um criminoso, violentava as próprias pessoas que admiravam-no, mas ficou como mártir porque era uma resistência, não se curvava aos poderes do latifundio e dos políticos locais. Pessoalmente acho que é um personagem que deve ser admirado com muitas reservas, todavia não deixa de ser história, não deixa de ser cultura.
Juazeiro do Norte não conheço, mas Canidé sim. É de arrepiar a devoção que as pessoas expressam por lá, na época fiquei muito comovido de ver pessoas paupérrimas atravessando o norte ou o nordeste para chegar a Basílica de São Francisco das Chagas para pagar uma promessa, "por uma graça alcançada" e gerelmente nada haver com bens materiais, as vezes cura de uma "frieira" nos pés, nascimento com saúde de um filho, cura do acoolismo e coisas do tipo.
As pessoas mais humildes que encontrei no nordeste, em maioria, foram as que mais me estimularam a viver e ao mesmo tempo sentir-me envergonhado da vida que levamos na metrópole, geralmente, em busca de coisas materiais, tangidos como gado em busca delas.
Adorei a foto 67. Que sorte vocês deram de chegar na cidade no dia da reportagem, hein?
E bode? cará? baião-de-dois? maria-teresa? não comeu nenhuma dessas iguarias?
abs,
NIlsona
Como sempre, Robson Dombrosky também é cultura... e com muita qualidade!
ResponderExcluirParabéns!
Nilson, comemos um prato de bode assado em Recife (últimos capítulos) e o baião de dois o tempo todo. Acho até que voltei da viagem mais "reforçado" por conta deste último.
ResponderExcluiruma pena a estátua do Padim estar tão... depredada.
ResponderExcluirA estátua já se encontra totalmente restaurada. Meu Padim merece.
ExcluirMuito boa a reportagem, gostei .
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