Grécia: Atenas e o Interior do País

Este material foi produzido em 2002. Naquela época eu tinha 22 anos e usava uma câmera (de filme) de quinta categoria. Daí o estilo diferente de escrita e as fotos limitadas. 

LESTE EUROPEU: DESCOBRINDO UMA OUTRA EUROPA - PARTE 1 

Em maio de 2002, durante a época que eu morava em Londres, resolvi matar de vez uma antiga curiosidade: conhecer o leste europeu. E lhes digo que nem pensei muito a respeito. Tendo comprado um pacote bem peculiar em uma agência de viagens australiana sediada em Londres, tratei de botar pé na estrada. Voei para a Grécia e de lá me juntei a um grupo de desconhecidos, com os quais fiz de ônibus todo o caminho de volta até Londres. Viemos acampando o tempo todo, no mais autêntico estilo mochileiro de viagem.


Aproveitando um dia livre em Atenas

Embarquei de Londres para Atenas num daqueles vôos baratos onde o avião vai socado de gente e as poltronas são projetadas para anões. Lanchinho de bordo é outra coisa que ficou só na vontade. Cheguei na cidade lá pelas 5 da manhã e a primeira coisa a ser feita era encontrar o endereço do camping, ponto de encontro com o pessoal do grupo. Essa tarefa não foi nada fácil, por vários motivos. Os nomes das ruas, já constituem um problema, que por causa daquele alfabeto grego, mais se assemelham a fórmulas matemáticas. Sendo assim, se eu estivesse procurando a Rua da Banana, por exemplo encontraria uma placa com alguma coisa do tipo  Σαφπεμ!! Outro contratempo, é que aquele ditado “quem tem boca vai a Roma”  infelizmente não funcionava ali. Tive que pegar um ônibus e tentar fazer o motorista entender onde eu estava indo, já que eu não fazia a menor idéia onde deveria descer. Apesar de eu não ter entendido uma única palavra que o cara falou (e vice versa), acabei encontrando o local.

Foi uma pena eu estar tão cansado por causa da noite sem dormir no avião, porque isso me deixou um tanto desanimado para explorar a cidade à pé. Mesmo assim ainda passei boa parte do dia andando pra lá e pra cá e não encontrei nada em Atenas que a diferenciasse de qualquer metrópole. É claro que é um lugar bem interessante e sendo uma cidade tão antiga, possui vários sítios arqueológicos, como a grande Acrópoli, lugar onde a cidade começou. Por outro lado, Atenas, assim como Roma, se destaca pela confusão no trânsito e muros pichados, além de inúmeros mercados de carne a céu (e moscas) aberto no centrão. Foi nessa área da cidade que encontrei uma espelunca para passar a noite.

As 4:30 da matina do dia seguinte, por incrível que pareça, já era hora de pular da cama, afinal de contas eu ainda tinha uma longa viagem pelo sistema de transporte público de Atenas até chegar ao camping de onde a tour partiria. Isso foi num domingo e precisei checar os horários do metrô e ônibus no dia anterior para evitar qualquer contratempo. Cheguei numa boa e encontrei com o pessoal com quem viajaria, todos australianos(as) e neo-zelandezes. E isso incluía o motorista, a guia e a cozinheira, que viajavam junto.

Desse camping pegamos a estrada em direção ao leste da Grécia, mais precisamente em direção a Meteora e seus monastérios. Esses foram construídos lá pelo século 16, todos praticamente pendurados no topo de penhascos de pedra, onde os monges ortodoxos gregos vivem (ou viviam) enclausurados. Tenho que admitir aqui que a companhia de turismo não exagerou nem um pouco quando descreveu a beleza natural do local, sem dúvida um espetáculo à parte.

Monastérios no topo dos rochedos em Meteora
Entrando em um desses monastérios pudemos conferir como esses monges viviam, e com vários objetos expostos, podia-se ter uma boa idéia do modo de vida que eles levavam cercados por aquelas paredes de pedra. Um dos pontos altos desse lugar foi quando me deparei com uma velha placa de madeira na parede, com uma caveira desenhada, exatamente como naquelas advertências de perigo. Essa placa apontava para uma porta bem ao lado que estava trancada, mas possuía uma abertura por onde se era possível espiar para o interior da câmara. Olhando para dentro, dei de cara com uma grande coleção de crânios dispostos em prateleiras. Empilhados num canto à parte estavam o restante dos ossos. Essas ossadas, como viria a descobrir mais tarde, pertenciam a todos os monges que tinham vivido lá, desde o século 16. Bela e sinistra coleção essa!  

Coleção de ossadas dos finados monges
De Meteora seguimos para Kavala, ainda na Grécia. Esse trecho demorou um bocado para ser percorrido, mas apesar de uma viagem de ônibus às vezes ser desconfortável, por outro lado ela se torna bem diferente quando todos os passageiros fazem parte do mesmo grupo. Sendo assim, a coisa muda bastante de figura, o pessoal fica tempo todo zanzando pelo corredor do ônibus, geralmente sacaneando com quem está dormindo. Na hora do almoço o ônibus encostou num estacionamento de beira de estrada e em menos de 5 minutos estava armada uma mesa cheia de comida, preparada pela manhã, ainda no camping. Durante o caminho ainda passamos bem ao lado do monte Olimpo. De acordo com a mitologia grega, era no monte Olimpo que moravam os deuses gregos, Zeus e cia.
           
A próxima parada foi num camping em Kavala, cidade à beira do mar. Como não poderia deixar de ser, o céu estava azul e esse é um dos pontos altos da Grécia. No centro da cidade tivemos que fazer um pit-stop no banco para sacar uns euros, pois dia seguinte estaríamos cruzando a primeira fronteira e entrando na Turquia. Nesses países do leste europeu não se conta com a mesma infra-estrutura e facilidades do oeste e o dinheiro para os próximos dias já deveria estar em mãos para ser trocado pela moeda local em cada cidade que passaríamos. Naquela noite foram preparados uns 40 litros de ponche para comemorar o aniversário de um cara do grupo. O resultado disso foi uma bebedeira que durou até tarde da noite.   

Acampamento na cidade de Kavala
Só por conveniência, a alvorada do dia seguinte foi as seis da matina. Estávamos rumando para a Turquia, onde esperava-se alguma dificuldade na travessia de fronteira. Justamente por isso partimos cedo do camping.

Parte seguinte: 

Comentários