Romênia: Drácula, Comunismo e Outros Pesadelos

Este material foi produzido em 2002. Naquela época eu tinha 22 anos e usava uma câmera (de filme) de quinta categoria. Daí o estilo diferente de escrita e as fotos limitadas. 

LESTE EUROPEU: DESCOBRINDO UMA OUTRA EUROPA - PARTE 4 

Esta á a continuação da parte 3 - Bulgária, um País com Cara de Cortina de Ferro

A Romênia, assim como a Bulgária, ainda possui muitas marcas do comunismo e fora das grandes cidades, todos aparentam ser pobres e vivem uma vida bem simples. Em Bucareste, capital do país, tivemos a presença de um guia local que mostraria a cidade, além de contar um pouco de sua história e acontecimentos recentes. Rodando pelo centro, o ônibus parou numa grande praça, bem em frente ao palácio do antigo governo comunista, mesmo local onde ocorreram as manifestações de 1989, que viriam a derrubar o regime. Na fachada de um dos prédios eram claramente visíveis milhares de marcas de balas, disparadas pela polícia durante toda aquela baderna.


Túmulo do comunismo em Bucareste, Romênia

Tive oportunidade de bater um papo com o guia, que me contou como as pessoas se comportaram durante aquelas manifestações e o quão aliviada ficou a população com a queda do comunismo. Foi então que citei a situação brasileira durante o regime militar e como os militares foram e continuam sendo encarados como vilões pela mídia, por terem tomado o poder na década de 60. Após ouvir essa história, ele me disse que achava um absurdo os brasileiros se renderem a essas idéias, já que não têm noção do que é viver sob um governo de esquerda. Segundo ele, qualquer brasileiro antes de defender este regime, deveriam visitar os países que sofreram durante tantos anos, para poderem entender como a coisa funciona na prática. Se o regime comunista oferecesse uma vida boa, a antiga Alemanha Oriental não teria tido a necessidade de construir um muro de quatro metros de altura para evitar que toda a população fugisse do país. Ainda segundo o guia, o comunismo é uma teoria muito bonita, mas que nunca funcionará em nenhum lugar do mundo. E ele ainda me disse: “Se tem alguém que pode te contar o que realmente acontece na prática, esse alguém sou eu, pois vivi muitos anos sob esse regime. Qualquer um que ainda tiver alguma dúvida sobre isso, deveria vir aqui e ver de perto como nosso país foi arruinado durante aqueles anos e até hoje ainda tenta se reerguer.”


Uma boa prova da má distribuição de renda que existia no país é o gigantesco palácio que o antigo ditador mandou construir nos anos 80, o segundo maior do mundo, só perdendo para o pentágono nos Estados Unidos. Foi bem interessante poder presenciar tudo isso, num país que raramente é visitado pelos turistas tradicionais.

Saímos da capital Bucareste viajando em direção ao norte do país, onde entramos na província da Transilvânia. Segundo a lenda, foi lá que viveu o conde Drácula. Esse sujeito, o Drácula, realmente existiu, foi um príncipe que viveu no século 15, mas de vampiro aparentemente não tinha nada. O autor da história, na verdade se inspirou em outra pessoa, uma princesa, também de uns quantos séculos atrás, que se banhava no sangue de mulheres jovens, pois acreditava que isso teria um efeito de rejuvenescimento. A contribuição do príncipe Drácula nessa história toda, foi principalmente a maneira com que executava seus inimigos, em violentos e cruéis rituais. Inspirando-se nesses dois personagens, o autor do livro “Drácula” criou o tão conhecido personagem. O castelo do Drácula, construído no século 14, ainda está lá firme e forte, portanto fizemos uma visita a ele. Do alto das torres do castelo tinha-se uma visão privilegiada dos campos da Transilvânia, uma bela área cheia de casas rústicas e pastores de ovelha.

Castelo do Drácula na Transilvânia, Romênia

De lá foi um pulo até Brasóvia, onde acamparíamos naquela noite. Pois é, após alguns dias de luxo e conforto extra, tinha chegado a hora de desencavar novamente as barracas de dentro do bagageiro do ônibus. Dali pra frente seria sempre teto de lona.

Viajando em direção ao norte e atravessando o belo cenário da Transilvânia, chegamos ao pequeno vilarejo onde Drácula nasceu. Foi onde paramos para o almoço. Assim como em todas as refeições de estrada, armamos uma mesa com comida bem ao lado do ônibus. Só que dessa vez apareceu uma pirralhada que ficou o tempo todo em cima da gente pedindo comida e dinheiro. Não foi lá muito agradável almoçar com aqueles moleques ramelentos enchendo o saco a cada garfada, portanto largamos um resto pra eles e zarpamos denovo. Essa é mais uma diferença que percebi nos países do leste, já que ainda não tinha visto moleques de rua na Europa.


Casa onde nasceu o Drácula em Brasóvia, Romênia

Moleques atacando as sobras do nosso almoço em Brasóvia, Romênia

Quando acordei no dia seguinte, imediatamente me bateu “aquela” saudade do hotel das noites anteriores. Nesses campos abertos costuma fazer uma temperatura muito agradável durante o dia, mas quando cai a madrugada aquilo simplesmente gela e a barraca fica toda molhada de sereno. Esses pequenos detalhes me proporcionaram momentos não muito agradáveis no camping de Brasóvia.


Próxima parte: 

Comentários

  1. Nossa... Pensei que já tinha lido tudo o que existia na internet sobre a Romênia, e eis que me deparo que esse teu post. Em Fagaras, durante o torneio medieval, também fomos abordado por um guri bem pobrezinho que pedia comida para o irmão menor. Foi de cortar o coração! O pior é que quando a gente resolveu comprar uma coisa para ele depois de tanto tempo de insistência, ele desapareceu... Mas voltando ao assunto, apesar dos perrengues do acampamento, essa parece ter sido uma daquelas viagens memoráveis, né? Abração

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    1. Certamente Gleiber! Além de reduzir um bocado os custos da viagem, tornado-os compatíveis com o salário de um empregado de lanchonete (meu emprego naquela época de residência em Londres) viajar acampando pelo Leste Europeu trouxe um gostinho a mais de aventura para a viagem.

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