Bulgária, um País com Cara de Cortina de Ferro

Este material foi produzido em 2002. Naquela época eu tinha 22 anos e usava uma câmera (de filme) de quinta categoria. Daí o estilo diferente de escrita e as fotos limitadas. 

LESTE EUROPEU: DESCOBRINDO UMA OUTRA EUROPA - PARTE 3

Esta á a continuação da parte 2 - Turquia: Istambul e Galipoli

Parece que quanto mais se avança em direção ao leste europeu, mais penosa vai ficando a tarefa de cruzar as fronteiras. Ao contrário do que acontece nos países da comunidade européia, no leste tudo é checado duas vezes: na saída de um país e imediatamente após, na entrada do outro. Apesar de todos os passageiros estarem com a documentação aparentemente em ordem, sempre existe o risco da polícia encrencar por algum motivo, tais como garrafas de vodka espalhadas pelo chão do ônibus ou fotos de mulher pelada coladas nos vidros. Eu, particularmente, já tinha enfrentado problemas para entrar na Turquia, por causa daquele detalhe do cartão de saúde e dessa vez, durante a apresentação do passaporte, fiz a maior pose de “garotão saudável”, ao invés de ficar encostado na parede, como tinha feito antes.

Isso, entretanto, não viria a ajudar em nada, porque logo vieram me informar que eu não entraria na Bulgária por estar sem o visto no passaporte. Nessa hora posso dizer que passei maus bocados, porque caso fosse realmente barrado, eu teria que dar meia volta e abandonar o grupo. Só que após ter passado duas semanas visitando as embaixadas de todos esses países em Londres afim de checar os trâmites burocráticos de entrada em cada país, eu estava preparado para lidar com a situação.

Nesse ponto da história me sinto obrigado a mencionar a inutilidade desse pessoal do leste quando se diz respeito à língua inglesa. Sinceramente não acho que eles estejam esperando que nenhum de nós fale búlgaro, então esses caras deveriam por obrigação ter uma certa capacidade de se comunicar em inglês. Isso já facilitaria muito as coisas.

Como eu ia dizendo, tive que deixar de lado o nervosismo e o medo de ser largado no meio do caminho para poder esclarecer as coisas com a polícia de fronteira. O sufoco, no entanto durou pouco, porque eles tinham na verdade se enganado ao checar meu passaporte e não tinham percebido que este era um passaporte de serviço, não requerendo nenhum visto. A partir daí ficou tudo no esquema, recebi o carimbo de entrada e retornei ao ônibus.

Durante esse longo dia de viagem, atravessamos enormes campos de plantação e passamos também à beira do Mar Negro. De vez em quando o ônibus atravessava pequenas cidades e vilarejos e era impressionante ver como tudo muda de figura nesses países antes dominados pelo império comunista. Fora das grandes cidades, se tem a nítida impressão que o tempo parou há 30 anos atrás ou mais. Carroças puxadas por mulas estão em toda parte, o transporte público parece que não recebe uma renovação na frota de veículos por uns bons 20 anos e os caminhões que circulam pelas ruas são certamente heranças da segunda guerra. Nas áreas mais densamente povoadas há muito lixo acumulado e a maior parte das moradias consiste em conjuntos habitacionais medonhos com as tradicionais toalhas coloridas e cuecas penduradas no varal da varanda. O ônibus encostou num posto de gasolina abandonado na estrada, onde preparamos o almoço. Banheiro ali já era pedir demais e isso foi resolvido da maneira mais simples: cavalheiros nas árvores à esquerda e damas nas moitas da direita. Seguimos na estrada por mais uns 500 quilômetros até chegar ao local do pernoite, que era nada menos que um enorme hotel quatro estrelas. Dali a dois dias voltaríamos às barracas, portanto nem era bom ir se acostumando ao luxo.

Sendo a Bulgária um país tão pequeno, não demorou nada para o ônibus alcançar sua fronteira na manhã do dia seguinte. Dessa vez não houve nenhum problema de fronteira e levou menos de uma hora para sermos liberados e entrarmos na Romênia. Antes de voltar à estrada o ônibus ainda teve que passar por um enorme chuveiro de desinfetante.


Próxima parte: 

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