Vivendo o Cotidiano de Londres - parte 4

Os textos intitulados “Vivendo o Cotidiano de Londres” são o resultado da compilação dos emails que eu enviava aos colegas e parentes no Brasil, descrevendo minhas experiências durante os dois anos que morei na Inglaterra, entre 2000 e 2002. No entanto, ao publicar esses relatos, resolvi mantê-los todos em seu formato original, contribuindo para que o texto retrate minhas impressões exatamente da forma como foram vividas.

Junho de 2001 (Ozzfest)

Pois é, aqui estou eu novamente escrevendo e dessa vez o assunto é quente. Não sei se eu tinha dito que estava com ingresso comprado para o Ozzfest. Foi dia 26 de maio, um showzaço mesmo! Aí vai uma pequena descrição do que aconteceu lá:

Assistindo ao Black Sabbath a poucos metros de distância

 Acho que o Ozzfest merece um texto à parte, pois não é sempre que se tem a chance de assistir Black Sabbath ao vivo com a formação original. Além do Sabbath, ainda se apresentariam mais 13 bandas de heavy/trash/death metal e hardcore, ou seja, muito barulho! O show seria em Milton Keynes, uma cidade a cerca de uma hora de Londres e por isso tivemos que pegar um trem, eu e o Luis, um colega que foi comigo. Se ainda restava alguma dúvida sobre como chegar ao National Bowl, local do show, elas sumiram logo quando descemos do trem e percebemos a quantidade de gente indo para o mesmo lugar. É nessas horas que se encontram os mais variados figurinos da face da terra: do ousado ao chocante, do esquisito ao totalmente ridículo.

Nos metemos nesse bolo e seguimos no vácuo. A coisa toda tinha sido organizada pela prefeitura da cidade, que colocou ônibus gratuitos para transportar o pessoal para o show. Chegamos no local lá pelas oito e meia da manhã. Os portões seriam abertos as nove e já tinha bastante gente esperando, a maioria estarrada no gramado, pois o lugar mais parecia uma fazenda. Quando os portões foram abertos entramos logo e fomos dar uma olhada geral pela área. Havia um enorme palco num campo aberto, que ficava de frente para um barranco gramado em forma de U, de modo que se tinha ali uma espécie de arquibancada natural. Ao lado do palco principal havia um outro, um pouco menor, onde se apresentariam bandas locais e com menos fama.     
                      
O show começou às onze da manhã, com a primeira banda se apresentando no palco secundário. Ficamos curtindo de longe para garantir nosso lugar perto do palco principal, onde começariam a tocar dali a meia hora. As primeiras bandas a se apresentarem não eram das melhores, mas pegaram um público descansado e empolgado, por isso “a cobra fumou” do início ao fim. Quando o show estava para iniciar no palco principal, a multidão já tinha se amontoado, todos querendo chegar o mais perto possível do palco. Nessa hora foi impossível ficar parado, não exatamente porque curtíamos o som, mas sim porque estávamos, digamos assim, sendo forçados a isso. O fato é que ficamos bem no meio do bolo dos empolgados, que consistia basicamente de uma massa compacta de gente pulando sem parar e que arrastava qualquer um que estivesse ao redor. Tirando as mochilas com comida e água que tínhamos que carregar o tempo todo, até que estava tranqüilo.
                      
Quando a primeira banda terminou de tocar aproveitamos o sossego pra comer uns sanduíches e uns goles d’água que tínhamos trazido. Além de matar a fome isso também serviu pra aliviar um pouco o peso das mochilas. Durante as apresentações das bandas seguintes, ficamos um pouco mais afastados do palco, curtindo o som de longe e aproveitando pra descansar um pouco. O dia estava quente e o sol brilhava com toda a força. Por causa disso o pessoal aproveitava para se esbaldar e o campo estava cheio de branquelos tentando pegar uma cor.  É claro que conseguiram e no fim do dia desfilavam com seus lindos tons de vermelho, verdadeiros pimentões ambulantes. A tarde foi avançando e as bandas mais famosas começaram a se apresentar. Resolvemos que estava chegando a hora da gente se jogar no meio do caos novamente e tentar chegar perto do palco.   
                       
Enquanto o Soulfly estava tocando, fomos chegando mais perto, mas mesmo assim acompanhamos o show de longe. A próxima banda seria o Papa Roach e aí sim chegamos o mais perto possível. O ideal seria ficar colado na cerca que separava o espaço para o público do palco, mas esse era um lugar muito disputado e geralmente quem conseguia alcançá-la se grudava e não saía mais. Por isso não chegamos lá, mas ficamos bem perto dessa vez. No lugar onde estávamos agora não acontecia aquele empurra empurra como antes, não porque o pessoal estava desanimado, mas porque isso era realmente impossível ali.  Juro que se chovesse naquela hora não teria uma simples gota capaz de atingir o chão. Eu e o Luís estávamos segurando nossas mochilas na frente do corpo e tentando inutilmente evitar que nossos últimos sanduíches fossem reduzidos a patê enquanto a banda agitava como nunca o público. Cerca de uma hora depois, quando o Papa Roach terminou a apresentação, nos afastamos do palco pra descansar e conferir o conteúdo das mochilas. As minhas coisas até que não estavam tão irreconhecíveis, mas quando o Luís abriu a mochila dele, fomos obrigados a rir mesmo. O cara ainda tinha uns quatro sanduíches, se é que ainda podiam ser chamados assim, e uns chocolates, que tinham virado uma paçoca só. Além disso, sua garrafa de água estava como se um rei momo tivesse sentado em cima.

Conferindo os estragos no conteúdo da mochila
A próxima banda seria Slipknot, esses sim, totalmente alucinados. Eu ainda não conhecia muito bem essa banda, mas percebi que grande parte do público usava camisetas desse pessoal, o que demonstrava que os caras não eram qualquer coisa. Eles tinham um estilo muito agressivo, tanto nas músicas pesadas como no visual, todos eles vestindo macacões e também umas máscaras bem sinistras. Gostei bastante da performance dessa banda, um tanto diferente. Assim que esses caras terminaram de tocar, tratamos de aproveitar o momento que o público se afastava um pouco do palco para tentar chegar de novo o mais perto possível, pois a próxima banda seria nada menos do que o Black Sabbath.
                      
À medida que nos aproximávamos do palco, começamos a perder as esperanças de conseguir chegar muito perto da cerca e quem estava lá não estava com a menor cara de quem iria sair. Só que, não sei como, fomos conseguindo chegar perto até ficarmos logo atrás da primeira fila de pessoas. Acho que tivemos muita sorte e também calculamos o momento exato de avançar, pois uns cinco minutos mais tarde teria sido totalmente impossível dar um passo pra qualquer lado. Ficamos então ali parados só esperando a hora do início do show e torcendo para que alguém na nossa frente ficasse com vontade de cagar e resolvesse sair de lá. Foi quando aconteceu: UMA CARA SAIU E DEIXOU UMA BRECHA LIVRE NA CERCA! Ainda sem acreditar me joguei no lugar vago antes que mais alguém tivesse sequer tempo de pensar nisso. Uns cinco minutos depois disso, ainda sem acreditar na minha sorte, um outro cara que estava ao meu lado também saiu e o Luís, que estava logo ali pegou a vaga. Resultado: estávamos prestes a assistir Ozzy Osbourne e companhia a poucos metros de distância!
                      
Quando os caras subiram no palco e começaram a tocar logo ficou claro que ainda estavam em plena forma, apesar dos trinta e poucos anos de carreira. Foi um verdadeiro espetáculo, realmente inesquecível. E o velho Sr Ozzy parece que não abandonou seu hábito de jogar baldes de água no público. Eu que o diga, acabei pagando meu preço por estar na primeira fila com um belo banho! Fora isso foi só diversão. Depois de uma hora e meia tocando eles encerraram a noite com uma chuva de fogos de artifício, a coisa foi bem elaborada mesmo
                       
E foi isso, para mim um verdadeiro woodstock, um dia agitado, cheio de surpresas e principalmente muito ROCK AND ROLL!

Comentários

  1. cara nao acredito q vc foi no show do black sabbath, é minha banda favorita

    pqpq to babano de inveja :(

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