Manaus: da Metrópole à Selva Amazônica


VIAGEM À AMAZÔNIA – Parte 6


Minha despedida do Pará foi marcada por um generoso “chá de banco” no acanhado aeroporto de Santarém, enquanto esperava por um voo que decolaria no meio da madrugada para Manaus. Ainda com sono atrasado da noite anterior, depois de jantar um P.F. de pirarucu acompanhado por uma tigela de açaí, deitei nas cadeiras do terminal e consegui dormir algumas horas antes do momento de embarcar.

Por causa daquele horário obsceno de chegada em Manaus, eu tinha tomado a precaução de deixar previamente agendado um transporte que me levasse sem demora até a cama mais próxima, já no centro histórico da cidade. Graças a isso, eu ainda pude contar com valiosas horas de sono antes de iniciar um dia de passeios pelos principais pontos turísticos de Manaus, tais como o Teatro Amazonas, o encontro das águas, o Mercado Municipal, o Porto de Manaus e a Praia da Ponta Negra.

Mas não só de atrações urbanas vive o turismo de Manaus, já que a cidade serve de base para uma atividade muito apreciada especialmente pelos gringos mundo afora. São os famosos “jungle tours”, os passeios na selva onde o visitante tem a oportunidade de interagir com a floresta, se hospedando em instalações construídas em meio à mata, instalações que vão desde cabanas simples e rústicas (como aquelas onde passei três noites) até verdadeiros hotéis na selva, alguns inclusive, um tanto quanto luxuosos.


Foto 149 - O Teatro Amazonas, localizado no centro de Manaus, é o principal patrimônio cultural e arquitetônico do Amazonas. Foi inaugurado em 1896, no período áureo do ciclo da borracha, o que faz dele o maior símbolo da riqueza da cidade naquela época, quando Manaus, tal como Belém, chegou a ser considerada uma das mais prósperas cidades do mundo. Com tanta pompa, nada mais natural que a cidade ganhasse um local a altura para apresentação das mais famosas companhias de espetáculos da época.

 Foto 150 – E assim o monumento foi concebido e construído, com participação maciça de arquitetos, construtores, pintores e escultores “importados” da Europa.


 Foto 151 – A cúpula do Teatro Amazonas, por sua vez, ostenta as cores da nossa bandeira nacional, formada por nada menos que 36 mil ladrilhos trazidos da França. Só não me perguntem quem se deu o trabalho de contar as peças. 


 Foto 152 - Através de uma visita guiada é possível conhecer o luxuoso interior do Teatro Amazonas. A sala de espetáculos conta com 700 lugares, distribuídas entre a plateia e três andares de camarotes. 


 Foto 153 - O teatro continua até hoje recebendo importantes espetáculos regionais, nacionais e internacionais. Nada mais justo para este que é o mais importante prédio da cidade, tanto pela riqueza arquitetônica quanto pelo valor histórico e tudo aquilo que o prédio representa na história de Manaus e da Amazônia.


 Foto 154 - Outro símbolo da riqueza gerada pela borracha na Amazônia é o Palacete Provincial, prédio histórico no centro de Manaus, que já foi sede do governo e quartel da Polícia Militar do Amazonas. Hoje abriga um centro cultural com cinco museus. 


 Foto 155 - Já viram esses desenhos em alguma outra calçada por aí? O Largo de São Sebastião é um dos espaços mais apreciados de Manaus. Seu calçamento de pedras portuguesas possui linhas ondulares copiadas de uma praça em Portugal, que por lá remetem ao Encontro das Águas do Rio Tejo com o mar. A analogia acabou servindo muito bem para Manaus, que pôde adotar a mesma lógica usando o famoso encontro das águas do Rio Negro com o Solimões. Alguns anos depois, o mesmo desenho também acabou sendo aplicado no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro.


 Foto 156 – Além do Teatro Amazonas e da catedral metropolitana de Manaus, o Largo de São Sebastião também é rodeado por belos casarões históricos


 Foto 157 - Já um pouco afastado do centro de Manaus, outro lugar bastante popular na cidade é o complexo turístico da praia da Ponta Negra, aqui representada pelo seu anfiteatro localizado à beira do Rio Negro. O complexo, que conta com iluminação noturna, é um excelente ponto de encontro para aquelas caminhadas de final de tarde.


Depois desse pequeno tour manauara, iniciei um passeio de quatro dias pela floresta amazônica, sem dúvida um dos programas mais procurados pelos gringos que estão na região, já que muitos vêm a Manaus com o grande intuito de se hospedar em lugares remotos em meio à selva amazônica, provavelmente o mais próximo que poderiam chegar do sonho de se deparar com anacondas, piranhas vorazes, aranhas assassinas ou toda sorte de vida selvagem e exótica que habite o imaginário da gringaiada. Seja devido ao interesse pelos ecossistemas brasileiros ou porque talvez tenham andado a ver filmes demais, o fato é que passar alguns dias imerso na floresta amazônica acaba sendo, para muitos visitantes, o ápice de uma visita ao norte do Brasil. E eu, como não podia ficar de fora, tratei de embarcar em um passeio desses, que acabei realizando junto a um pequeno grupo formado por ingleses, dinamarqueses e um norte-americano. Nos encontramos no escritório de uma agência de turismo e de lá iniciamos  uma mini epopeia para chegar ao lugar onde nos instalaríamos:
   
 Foto 158 - Na primeira etapa do deslocamento, seguimos de carro do centro de Manaus até o porto “Ceasa”, onde tomamos uma lancha que acabou passando por um ótimo ponto para observação do famoso encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Devido a diferenças de temperatura, densidade e velocidade de correnteza entre a água escura do Rio Negro com a barrenta do Solimões, os dois rios correm paralelos por vários quilômetros antes de se misturarem completamente. Surge aí o Rio Amazonas.


 Foto 159 - Já do outro lado do rio, entramos todos em uma Kombi que seguiu pela rodovia BR 319, única ligação por terra disponível entre Manaus e o Estado de Rondônia. A estradinha, coitada, além de bastante judiada, estava alagada em vários pontos, novamente os reflexos de uma temporada de chuvas recordes naquele início de 2012.


 Foto 160 - Mais uma parada, dessa vez para admirar a vitória-régia, maior flor aquática do mundo e planta símbolo da Amazônia. Suas folhas passam facilmente de um metro de diâmetro.


 Foto 161 - Depois de 40 km, a Kombi nos deixou em um vilarejo onde pegamos outra lancha, para novo percurso por rio, que durou pouco mais de uma hora. 


 Foto 162 - Foi uma daquelas viagens “com emoção”, onde um possante motor de popa de 140 HP fazia a lancha quase decolar, enquanto o piloto tomava uma série de atalhos por igapós e pequenos afluentes, quase sempre tirando fininhos de árvores e galhos pelo rio. 


 Foto 163 - Quando finalmente chegamos ao destino, a adrenalina da viagem rio acima logo deu lugar à serenidade e ao sossego do lugar com o qual nos deparamos. 


 Foto 164 - O principal anfitrião era também um dos guias nas diversas atividades realizadas durante os quatro dias naquele recanto.


 Foto 165 - A “legião estrangeira” no barco durante um dos passeios. Genericamente falando, percebo claramente como os gringos parecem se interessar muito mais do que nós brasileiros pelas belezas e pela biodiversidade da Amazônia, fato que inclusive já comentei no texto melhores lugares para viajar no Brasil.


 Foto 166 - Talvez isso aconteça porque muitos deles não têm, em seus respectivos países, nada parecido com o que a natureza brasileira nos apresenta.


 Foto 167 - Afinal de contas, a Amazônia representa mais da metade de todas as florestas tropicais remanescentes no planeta, o que se traduz num dos mais extensos ecossistemas do mundo. 


 Foto 168 - Em outras palavras, dá para dizer que uma em cada dez espécies conhecidas vive na Floresta Amazônica.


 Foto 169 - De dentro da canoa foi possível avistar muitos representantes dessa população gigantesca. As vezes se fazia necessário desligar o motor a assumir os remos para uma aproximação mais silenciosa, evitando afugentar os mais tímidos.


 Foto 170 - E dependendo do caso, éramos nós que acabávamos intimidados. 


 Foto 171 - Em uma das noites deixamos as cabanas e acampamos na mata, dormindo em redes montadas neste ponto próximo à margem de um rio. De lá assistimos ao espetáculo do sol se escondendo no horizonte, enquanto a escuridão ia aos poucos tomando conta da floresta. 


 Foto 172 - A noite é o momento oportuno para avistar certos animais na floresta. Quando apontávamos uma lanterna para a margem do rio, por exemplo, era possível enxergar alguns pares de olhos brilhando na escuridão, os quais fomos seguindo a bordo da canoa. O pequeno jacaré, ofuscado pela lanterna, não se movia até estarmos tão perto a ponto de já ser possível agarrá-lo com as mãos, como fez o nosso guia. Para a sorte de todos, o filhotinho não chamou pelo papai...


 Foto 173 - Depois do jantar cozinhado na fogueira (só pra constar, o bichano acima foi solto sem nenhum arranhão) fomos dormir ouvindo um coro de sapos e cigarras, junto com uma infinidade de outras “vozes” da floresta. 


 Foto 174 - No dia seguinte, por sugestão do guia, levantamos antes das seis da manhã para assistir o sol nascer, ao som da bicharada que ia aos poucos despertando. E onde seria um bom lugar para se fazer isso? Que tal dentro da canoa, no meio do rio, pescando umas piranhas?


 Foto 175 - Os dentes afiados e a voracidade carnívora das piranhas fizeram delas um dos bichos mais temidos dessas bandas.


 Foto 176 - Mas as piranhas também não foram para nossa panela. Por outro lado, nos fartamos de castanhas, encontradas em abundância pelo chão. Ou pelo menos, comemos todas as que o guia se dispôs a descascar com os golpes certeiros do seu facão.

 Foto 177 - Sabe-se que a castanha-do-pará é um alimento bem nutritivo, mas chegar até ela não é tarefa das mais fáceis.


 Foto 178 - Uma versão mais proteica do fruto são as larvas que eventualmente são encontradas dentro das cascas, todas gordinhas depois de terem se alimentado da castanha que estava lá. 

 Foto 179 – A convite do guia provei uma daquelas larvas da castanha, muito saborosa por sinal: têm o mesmo gosto da própria castanha, apenas numa textura mais “cremosinha”.

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(intervalo para manifestações de nojo)
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 Foto 180 - Toda aquela região é um tanto isolada, mas não chega a ser desabitada. Pelo caminho é possível avistar alguns ribeirinhos que sobrevivem dos recursos da floresta, como este mestiço indígena que visitamos enquanto fazia bolsas e outros acessórios com látex curado pelo método tradicional, a partir da fumaça de cascas de babaçu.

Foto 181 - E como num piscar de olhos, aqueles quatro dias de hospedagem em meio à selva chegaram ao fim. Não foi exatamente uma experiência intensiva, mas suficiente para aplacar um antigo desejo pessoal de conhecer a Amazônia, conforme eu já havia comentado na introdução deste relato. Mas da mesma forma que uma primeira mordida na guloseima só faz atiçar a vontade de comermos mais um pedaço, conhecer este pedaço do Brasil só me faz sustentar a vontade de um dia poder retornar.


Comentários

  1. linda a foto da piranha! e não usei o intervalo; fiquei com vontade de comer castanha! (yes, I'm weird)

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  2. Olá Robson!

    BELÍSSIMAS fotos. Parabéns!
    Miriam - RS

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  3. Olá Robson, eu estou programando fazer uma viagem dessas em Manaus. Devo passar uma semana e queria fazer esse mesmo passeio que você fez. E queria saber mais detalhes de como fazer esse tipo de hospedagem na mata. Vc reservou antes ou decidiu na hora? Como funciona o esquema em si, tem como me passar?
    Obrigada
    Alessandra

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    1. Oi Alessandra. É preferível pesquisar antes, se não for para reservar, pelo menos para dar uma sondada nas opções de passeio disponíveis. Mas também dá para fechar lá mesmo. É bem tranquilo arranjar esse tipo de passeio, tem umas quantas agências que organizam tudo, de acordo com o gosto do freguês. Digita lá no Google algo como "passeio floresta amazônica Manaus" e devem aparecer as principais.

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