Três Dias de Barco pelo Rio Amazonas

VIAGEM À AMAZÔNIA – Parte 4


Desde a época em que eu ainda rascunhava os primeiros planos para esta viagem à região norte do Brasil, a ideia de navegar pelo Rio Amazonas já constava no topo das prioridades. Mas como era de se esperar, arranjar aquela viagem de barco de Belém a Santarém não foi tão simples e prático como, por exemplo, reservar e comprar uma passagem aérea.

No fim da manhã de 08/05/2012, logo após retornar da Ilha de Marajó, peguei um ônibus até o lugar de onde meu barco sairia no início da noite, um porto acanhado já na periferia de Belém. Depois de realizar uma espécie de check-in, fui autorizado a ir a bordo para deixar minha mochila e também para amarrar com antecedência minha rede no convés, procurando escolher um bom lugar para aquele que seria meu leito nas próximas três noites. Feito isso, retornei ao centro da cidade para aproveitar as horas que ainda faltavam até que os estivadores concluíssem o carregamento do barco, coisa que só foi acabar às 23h, cerca de cinco horas após a previsão inicial da nossa partida.

Foto 087 - Viajar de barco pelo Rio Amazonas continua sendo uma forma de transporte comum na região, mesmo nos trajetos mais longos, como entre Belém e Manaus, onde o tempo de viagem pode chegar a uma semana.


Foto 088 - Com vocês, Nelio Correa, o barco que durante três dias subiu o Rio Amazonas, navegando de Belém a Santarém, carregado de farinha, cebola e tomate, além de uma centena de passageiros. Enquanto os dois andares superiores eram os locais destinados às pessoas e suas redes, o deck inferior e o porão saíram abarrotados de carga.


Foto 089 - Registro do meu primeiro amanhecer sobre o gigante Amazonas. Acordei cedo, sentindo a brisa do rio e o suave balançar da rede.


Foto 090 - Os passageiros iam aos poucos acordando. Passada a primeira noite de navegação, ainda estávamos terminando de costear a Ilha de Marajó, mais ou menos à altura da cidade de Breves. 


Foto 091 - Apesar da imensidão do Rio Amazonas, não foi exatamente uma viagem solitária. Eventualmente cruzávamos com navios cargueiros, outros tantos de passageiros, ou ainda, quem sabe, postos flutuantes de combustível, tal como esse aí. 


Foto 092 - Havia também os barcos dos ribeirinhos. Vi passar alguns antes de surgir este, com três garotos que nos encaravam como se estivessem a tramar alguma coisa. 


Foto 093 - E na verdade estavam mesmo. Em uma manobra bem audaciosa, o caçula dos marinheiros se pôs de pé sobre a proa para laçar o nosso barco em movimento.  


Foto 094 – A partir daí foi a vez do mais forte assumir a tarefa de puxar a corda até conseguir atracar a pequena canoa ao nosso barco.


Foto 095 - Com tudo firme e ajustado, já podiam vir a bordo. E assim o fizeram, com o propósito de vender aos passageiros essas cestas de camarão.


Foto 096 - Ao longo do dia, nos locais mais habitados por ribeirinhos, essa cena se repetiu e outros barqueiros fizeram coisa parecida. Alguns queriam apenas pegar carona, mas quase sempre o propósito era a venda algum produto. 


Foto 097 - Esse aí achou que talvez pudéssemos estar precisando de algumas cadeiras.


Foto 098 - Mas dentre todos os visitantes, foi esse casal que mais mereceu o “Prêmio Chuck Norris de performance naval”. Enquanto uma senhora bastante acima do peso e com notáveis habilidades ao remo jogava a canoa de encontro ao nosso barco, o marido esperou o momento exato para lançar um gancho que acabou se prendendo na estrutura da embarcação, que obviamente vinha navegando em velocidade muito superior a deles. 


Foto 099 - Havia também os que se aproximavam e ficavam apenas observando nossa passagem. 


Foto 100 - Empunhando os remos, quase sempre crianças, algumas até bem novinhas.


Foto 101 - E não foram poucos os que avistei agindo da mesma forma. Depois fui descobrir ser costume dos passageiros lançarem sacolas plásticas com roupas e alimentos, atraindo assim o interesse de diversos ribeirinhos, que costumavam aproximar-se na expectativa de recolherem alguma oferta. 


Foto 102 - E isso também explicava as crianças nas canoas, ao invés dos pais, que normalmente ficavam assistindo de longe. Duvido que alguém ali tenha se graduado em Marketing, mas não é difícil concluir que uma pitada de apelo sentimental pode contribuir para o aumento da generosidade nas ofertas. 


Foto 103 - Questões sociais à parte, a viagem seguia. Para escapar da correnteza em “alto rio” o comandante adotava uma rota que a todo o momento ingressava em canais mais estreitos, paralelos ao curso principal do Amazonas. 


Foto 104 - Antes do destino final, algumas escalas em pequenas cidades à beira-rio. 


Foto 105 - O barco nem bem atracava e lá vinham os vendedores pulando para dentro. Particularmente apreciei bastante a visita desse aí, que me vendeu uns picolés de frutas das quais eu nunca tinha ouvido falar. 


Foto 106 - Já as senhoras da canoa amarela, demonstraram um pouco menos de proatividade.


Foto 107 - Camarão a bordo! Pelo menos uns 10 sacos desses, cada um com 30 kg de carne pura, foram carregados. 


Foto 108 - Confesso ter ficado tentado a comprar um desses tijolões de queijo de búfala. 


Foto 109 - Enquanto esperávamos, lá vinha o barco escolar buscar a criançada na vila.

Foto 110 - Aquele início de 2012 registrou um dos maiores índices pluviométricos da história na região amazônica.


Foto 111 - Várias comunidades foram atingidas, ficando a mercê dos rios que subiram e alagaram partes de muitas cidades. 


Foto 112 - Hora de voltar para o navio, que já dava sinais de que se preparava para partir. Longe de mim arriscar ficar para trás, o que poderia significar uma semana esperando pelo próximo. 


Foto 113 - O tempo livre no barco foi aproveitado também para lavar a roupa suja, que depois foi posta a secar em um varal que improvisei no convés.


Foto 114 - Concluídos os afazeres domésticos, fui dar uma volta pelas outras partes do barco, descendo, por exemplo, até o compartimento de cargas, onde um grande carregamento de tomates se destacava. 


Foto 115 - Os pobres tomates, que saíram verdes de Belém e chegaram quase maduros em Santarém, foram muito judiados por estivadores descuidados e um sistema de carregamento extremamente arcaico. Dava dó de ver a quantidade de caixas danificadas e frutos amassados. 


Foto 116 - Na hora das refeições, contávamos com um mini restaurante a bordo. Com R$ 10,00 cada um montava seu prato na cozinha “selve serve” do navio. Havia três gringos entre os passageiros, a quem fiz o favor de explicar o sistema self service do restaurante. 


Foto 117 - E depois de comer, nada como uma soneca na rede. A minha é aquela amarela mais escura, bem no centro da foto. Se você se for daquele tipo de indivíduo que gosta de gente, que gosta de se misturar, que busca se aproximar da população local e de seus respectivos hábitos sem se importar com eventuais roncos ou tossidas bem ao lado, abaixo ou acima da sua cabeça, eis o seu paraíso!


Foto 118 - Enquanto isso, lá vinham novamente as belas e intimidantes nuvens cinzentas, para mais uma vez despejar sobre a Amazônia o aguaceiro nosso de cada dia.  


Foto 119 - Dormir com o barulhinho da chuva caindo lá fora é sem dúvida uma boa pedida. Conduzir uma canoa debaixo de uma tromba d’água já é de se questionar. 


Foto 120 - E assim, durante três dias e três noites subimos o Rio Amazonas com destino a cidade de Santarém. Depois que o sol se punha, após jantar e antes do sono chegar, uma de minhas atividades favoritas era ficar sentado na proa do barco, sentindo o vento fresco e admirando a grandiosidade da floresta. Com a noite vinha o céu incrivelmente estrelado, perpetuando os encantos daquela viagem rio acima, daquela experiência verdadeiramente amazônica.



Comentários

  1. Selve serve! ta selto! kkk

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  2. Lindas fotos amigo, senti saudades, recentemente estive na mesma região, forte abraço, Nilson Soares

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    1. Obrigado Nilson. Por coincidência hoje mesmo estava olhando um material sobre essa sua viagem no FB. Parabéns pra você também!

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  3. Oi, Robson. Tudo bem? :)

    Seu post foi selecionado para a #Viajosfera, do Viaje na Viagem.
    Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com

    Até mais,
    Natalie - Boia

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  4. Faço coro: fotos lindas! aumentou minha vontade de conhecer esta região. Parabéns!

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    1. Que ótimo, me sinto cumprindo bem a missão então!

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  5. Estou querendo fazer a mesma viagem. Parabéns pelo relato e pelas fotos! Uma dúvida: é mais bonito subir ou descer o Rio Amazonas? E os gringos que estavam no "selfe serve", o que eles disseram da aventura?
    Abraços!

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    1. Felipe, na época em que planejei essa viagem cheguei a ler comentários mencionando que quando o barco sobe o rio, ele o faz mais perto da margem, para escapar da correnteza mais forte. Acho que esse seria o único incremento em termos de beleza, pois devido a imensidão do Amazonas, poderia passar por trechos que faria parecer que você estaria navegando no mar. Os gringos, bem, eles estavam adorando, tudo muito exótico, exatamente como eles queriam!

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  6. Excelente. Parabéns pelas fotos e sua narração.
    Joahermen

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  7. Parabéns pelas imagens e pela ótima descrição dos lugares, muito bem detalhada por sinal.

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  8. Achei muito legal esta viagem.Qual a melhor época e o custo?

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    1. Luiz, indo mais para o meio do ano chove um pouco menos e as praias de rio como por exemplo em Alter do Chão ficam mais bonitas. Mas fora isso não tem muito erro. O custo da passagem eu estimo que esteja atualmente perto de uns duzentos reais (Belém - Santarém), mas precisa verificar.

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  9. Parabéns! Que viagem linda ! Obrigada pelas informações, detalhes, e dicas. Estou planejando minha viagem para janeiro/17 com meus filhos adolescentes e seus relatos me deixou ainda mais empolgada para esta aventura.

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  10. Brevemente estarei viajando até Breves daqui de Santarém. Se Deus quiser, já estou ansiosa pra apreciar essas maravilhas

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