De Curitiba a Morretes no Trem da Serra Verde Express


Não é sempre que temos à disposição semanas inteiras para realizar grandes viagens, não é mesmo? Mas isso não quer dizer que alguém precise abrir mão de conhecer diversos lugares interessantes por este nosso Brasil, já que, dependendo de onde você more, muitas atrações podem ser facilmente alcançadas em passeios curtos de um final de semana. Se você estiver no sul do Brasil, por exemplo, ou então, quem sabe, tiver conseguido descolar uma super promoção de passagem aérea para Curitiba, a grande dica é o passeio de trem da Serra Verde Express, que desce da capital paranaense rumo a Paranaguá, importante cidade portuária do Estado. São 110 quilômetros de viagem pela maior área preservada de Mata Atlântica do Brasil, em uma ferrovia com 130 anos de história. O trem turístico da Serra do Mar parte diariamente de Curitiba rumo à cidade de Morretes, em uma belíssima viagem com 3 horas de duração. 

Foto 01 - A Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, a mais antiga do Estado, é considerada um dos marcos da engenharia ferroviária nacional. Foi inaugurada em 1885, tendo mudado muito pouco desde então. A linha que hoje desce os 900 metros de altitude da serra paranaense guarda trechos originais daquele tempo, que comprovam o valor de um arrojado projeto elaborado há mais de um século.

Foto 02 - Morretes, uma bucólica cidade colonial fundada em 1721, costuma ser o destino do dia para a maioria das pessoas que realizam o passeio. O lugar fica no meio da Serra do Mar paranaense, entre a capital e o litoral. 

Foto 03 - A grande motivação para construção dessa estrada de ferro foi a necessidade de se criar uma ligação da região metropolitana de Curitiba ao Porto de Paranaguá, condição essencial para o desenvolvimento socioeconômico de toda a região. De uns tempos para cá, no entanto, a ferrovia Curitiba – Paranaguá acabou assumindo uma função quase meramente turística, sendo bastante procurada por curitibanos e forasteiros, que encontram aqui um passeio leve, agradável e de estreito contato com a natureza exuberante da Serra do Mar. 

Foto 04 - Para fazer este passeio, o ponto de partida é a Estação Rodoferroviária de Curitiba, onde a empresa Serra Verde Express administra os trens da linha turística. Existem diferentes classes de passeio, quase todas contam com um guia por vagão e lanchinho básico de bordo.

Foto 05 - Partimos 8:15 da manhã. Logo nos primeiros quilômetros do percurso, o trem atravessa Pinhais e Piraquara, dois municípios da região metropolitana de Curitiba que apresentam os traços da colonização Polonesa da região.

Foto 06 - Mais adiante uma visão curiosa: uma comprida chaminé de tijolos que emerge do lago da Represa Caiguava. A chaminé solitária é tudo o que restou de uma casa de bombas que pertencia ao antigo sistema de abastecimento de água de Curitiba até me­ados do século 20, submersa em 1978, quando a represa foi criada.

Foto 07 - E lá fomos nós, serra abaixo pelos trilhos da ferrovia Curitiba – Paranaguá! Mas se você esperava fortes emoções, sinto informar que o trem não costuma passar de 30 ou 40 km/h. Mas pensando melhor, para que a pressa? A vantagem da calmaria é poder apreciar melhor as belezas da Serra do Mar. 

Foto 08 – E são de fato muitas belezas ao longo desta ferrovia que começou a ser construída ainda em 1880. Para a obra, foram recrutados mais de 9.000 homens que trabalharam arduamente durante 5 anos para vencer grandiosos obstáculos que a princípio pareciam intransponíveis.

Foto 09 - Ao longo de sua extensão, a ferrovia guarda verdadeiras obras de arte da engenharia, como a Ponte São João, com 55 metros de altura, que mais tarde precisou ser reforçada para suportar o peso das composições modernas.

Foto 10 - Para a transposição da serra foi necessário abrir também 14 túneis, o maior deles – o túnel Roça Nova, com mais de 450 metros de extensão.

Foto 11 - O primeiro trecho da ferrovia foi inaugurado em 1883, apenas 3 anos após o início das obras. E pensar que nós aqui, em pleno século 21, muitas vezes precisamos esperar décadas até que obras muito mais simples sejam concluídas!

Foto 12 - Poucos destinos no Brasil têm valor histórico semelhante ao deste passeio na estrada de ferro da Serra do Mar. No local onde inúmeros engenheiros europeus um dia duvidaram da viabilidade de sua construção, o esforço de milhares de trabalhadores acabou resultando em uma das mais ousadas obras da engenharia mundial. 

Foto 13 - Na maior parte da viagem, este é o cenário que contemplamos pelas janelas do trem: a imponência da Mata Atlântica Tropical do Brasil, que por sinal já era percorrida por tropeiros que desbravavam a serra paranaense desde o século XVII. Esse trânsito acabou dando origem ao “Caminho do Itupava”, aberto na mata entre 1625 e 1650 e durante séculos, a única ligação entre Curitiba e o litoral do Estado. E foi apenas em 1873, com a construção de uma estrada de verdade, que o Caminho do Itupava perdeu sua função estratégica e acabou abandonado, para alguns anos depois voltar a ser usado pelos operários que se embrenhavam na mata para a construção da ferrovia. Hoje o Caminho do Itupava é considerado um patrimônio histórico, sendo percorrido por caminhantes dispostos a reviver as aventuras dos primeiros desbravadores da região.

Foto 14 - O Caminho do Itupava encontra a ferrovia Curitiba - Paranaguá em dois pontos. Em um deles, é possível ver o que restou da Casa do Ipiranga, a antiga residência do engenheiro chefe da linha férrea. O que um dia já foi uma bela obra arquitetônica, está hoje em ruínas após ter sido saqueada e vandalizada a partir de 1995, quando foi abandonada à própria sorte depois da privatização da ferrovia. 

Foto 15 - Aliás, ao longo de todo o passeio pudemos ver muitas casas abandonadas à margem da ferrovia. 

 Foto 16 - Várias delas pertenciam a antigas vilas ferroviárias e são da época em que a estrada de ferro era administrada pela estatal RFFSA. Hoje estão quase todas em ruínas, um triste retrato do processo de abandono das ferrovias no Brasil.

Foto 17 - Antes de chegar a Morretes, o trem faz uma parada dentro do Parque Estadual do Marumbi, em uma estação que nasceu em 1885 a partir de uma simples parada no Km 60 da estrada de ferro. O local é bastante frequentado por ecoturistas e montanhistas, que acampam por aqui antes de partirem para escaladas ao Pico do Marumbi.

Foto 18 - Depois disso já estávamos nos aproximando da próxima parada: a Estação de Morretes. 

Foto 19 - O trem chega a Morretes já bem próximo da hora do almoço. Encontramos uma cidade de clima agradável e repleta de construções históricas.

Foto 20 - Morretes fica na encosta da Serra do Mar, a 35 km do litoral, tendo se tornado especialmente conhecida por causa dos seus restaurantes, que servem um prato bastante típico do litoral paranaense, o famoso Barreado.

Foto 21 - O Barreado consiste basicamente de uma porção de carne cozida lentamente por muitas horas dentro de uma panela de barro.  Para que a carne não ressecasse por passar tanto tempo no fogo, as panelas passaram a ser tapadas e suas tampas vedadas com uma pasta de farinha, de modo que o vapor ficasse retido lá dentro. Chamou-se isto de “barrear a panela” – daí o nome do prato. O tempo de cozimento é tão longo que a carne acaba se desfazendo por completo, resultando em um caldo espesso e muito saboroso.

Foto 22 - Mas nem só de Barreado vive Morretes. A cidade possui também muitos casarões antigos preservados, herança de um tempo de prosperidade que ocorreu entre os anos de 1820 e 1880, quando a cidade era um importante entroncamento comercial no beneficiamento da erva mate produzida no Estado. Naquela época, todo o mate extraído nos arredores era beneficiado nos engenhos da região, antes de ser despachado pelo porto de Paranaguá.

Foto 23 - No entanto, com a chegada dos trilhos até Paranaguá, tornou-se mais vantajoso beneficiar o mate em Curitiba. Isso acabou sendo um duro golpe para Morretes, que a partir daí entrou em forte declínio socioeconômico, do qual demorou bastante para se reerguer. 

Foto 24 - Quanto à ferrovia Paranaguá – Curitiba, que até então pertencera a Rede Ferroviária S/A, acabou privatizada e incorporada nos anos 90 pela empresa ALL - América Latina Logística. Hoje são as suas locomotivas que puxam os vagões turísticos da Serra Verde Express, no passeio de trem entre Curitiba e Morretes. 

Foto 25 - Depois de almoçarmos e passearmos tranquilamente pelas ruas do centro histórico de Morretes, já era hora de irmos até o terminal rodoviário encontrar o ônibus que nos levaria de volta à Curitiba.

Foto 26 - No retorno, o ônibus subiu a serra paranaense pela histórica Estrada da Graciosa, aquela mesma cujo trajeto teve origem na antiga rota de tropeiros da região (vide foto 13).  Sua construção foi concluída em 1873 e até a metade do século XX, a Estrada da Graciosa permaneceu como única estrada com calçamento de todo o Estado, sendo assim importante rota de escoamento da produção agrícola do Paraná rumo ao Porto de Paranaguá.  Em muitos trechos, a estrada ainda mantém seu calçamento original em paralelepípedo.

Foto 27 - Quem faz este percurso pelo caminho antigo é a empresa Viação Graciosa, que possui uma linha turística que retorna à Curitiba pela Estrada da Graciosa, contando inclusive com uma parada próximo a um mirante, a partir do qual é possível avistar ao longe o litoral paranaense e o Porto de Paranaguá, devidamente emoldurados pela beleza da mata atlântica da Serra do Mar. 


INFORMAÇÕES PRÁTICAS:
O programa clássico deste passeio costuma durar um dia inteiro. A maioria das pessoas acaba optando por descer a serra de trem, almoçar um Barreado em Morretes, passear pelo seu centro histórico e em seguida retornar de ônibus à Curitiba. Neste caso, a opção mais interessante é utilizar a linha turística que sobe a serra pela Estrada da Graciosa, saindo de Morretes às 15h. Para consulta de horários dos ônibus e compra on-line de passagens acesse o site da Viação Graciosa,
Também existe a opção de realizar o mesmo passeio no sentido oposto, descendo a serra de ônibus e subindo com o trem, ou ainda fazer os dois trechos de trem, apesar desta opção ser mais cara e mais demorada.

Horários dos trens:
Saída de Curitiba: todos os dias às 8:15, com chegada em Morretes prevista para 11:15.
Saída de Morretes: todos os dias às 15:00 com chegada em Curitiba às 18:00.
Saídas de Curitiba para Paranaguá: somente aos domingos às 7:30 com a Litorina.
Aos sábados e feriados a Litorina sai de Curitiba às 9:15 mas vai somente até Morretes.

A Litorina, diferente das composições convencionais, é um vagão automotriz, portanto sem locomotiva, com serviços diferenciados, tais como lanchinho um pouco mais caprichado, ar condicionado e janelas panorâmicas (mas que não podem ser abertas). Veja os horários e preços dos trens, com possibilidade de reserva de passagens no site da Serra Verde Express.


Também é possível visitar Paranaguá a partir de Morretes, através dos ônibus da Viação Graciosa, que têm saídas diárias para lá e também para Antonina, outra cidade de valor histórico e com diversos atrativos turísticos.



Comentários

  1. E ainda prefirimos viajar para Europa, com tantos lugares lindo e exuberantes aqui no Brasil

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    1. Verdade, inclusive destaco muitos desses lugares no texto "Os melhora lugares para viajar no Brasil", da uma olhada!

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    2. Robson Dombrosky, como faço para acompanhar estas suas aventuras maravilhosas , eu estrei em breve viajando para Curitiba , peguei tds as dicas que vc postou, vendo que Curitiba parece uma cidade com passeios mt caros, eu estou pegando uma dica aqui uma dica ali para gastar pouco, valeu as dicas

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    3. Nosvaldina, você já cadastrou seu email no blog? É a maneira mais fácil de acompanhar as novas publicações aqui no Biaje na Imagem.

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  2. Wilson de Souza, São Paulo29/08/2013, 10:08

    Gostei muito da maneira que descreveu o passeio a as fotos, gosto de viajar de ônibus, e sempre tive vontade de viajar de trem, e, este passei me parece simplesmente imperdível!

    Estava pesquisando um lugar para ir em Outubro, quando estarei de férias, acho que encontrei!

    Um abraço.

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    1. Que legal Wilson, isso aí, vai mesmo que não irá se arrepender, o programa é muito legal, principalmente para quem curte passeios de trem, infelizmente tão escassos no Brasil.

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  3. Lindo ! gostei demais do teu blog, das tuas dicas e informaçoes.mprp na Europa e infelizmente ainda nao tive a ocasiao de conhecer Morretes. Muito obrigada !

    Amelia Rethore, França 11/09/2013

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    1. Obrigado Amélia e tomara que encontre uma oportunidade para vir conhecer o lugar qualquer dia desses!

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  4. Bom dia Robson ! Mes de outubro seria ou nao um bom periodo para visitar Morretes , Antonina e Paranagua ?
    O Brasil é realmente um pais muito bonito com uma variedade de paisagens, tao diferentes e bonitas !
    Abraços cordiais

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    1. Amelia, acredito que seja sim um bom período, pois está fora da temporada de férias escolares e as atrações não devem estar muito cheias, principalmente se a visita for durante a semana.

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  5. Muito obrigada Robson, por todas essas informaçoes e até uma proxima viagem ! Espero que voce poste outras lindas fotos de tuas viagens, adorei o teu blog. Abraços!

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  6. Muito interessante o blog e os passeios. Estamos pensado em fazer o passeio de 26 a 30 de dez, o que acha da data ?
    Outra coisa, gostaria de um palpite, qual a melhor opção já que vamos de moto, é descer de trem e subir de moto ou ao contrário, descer de moto e subir de trem ?

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    1. Acho uma boa pedida, apenas recomendo dar uma olhada no site da Serra Verde Express para ver se por acaso os horários não mudam no período das festas. Quanto a ordem das coisas, não deve fazer muita diferença, a não ser mó inverno, que pode já estar escurecendo durante a subida do trem. De qualquer forma, e mais comum as pessoas descerem com o trem.

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  7. Já passei pela estrada da Graciosa de carro, porém sonho com a viagem de trem....

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    1. Alessandra, vale a pena, o trem passa por lugares com paisagens belíssimas!

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  8. Amei seu blog Robson. Em agosto vou pra Curitiba e vou fazer o passeio de trem, parece que é lindo mesmo. Eu tb sou louca por viagens, sempre que posso viajo. Parabéns pelo blog e pelas fotos!

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  9. Robson, tudo bem?

    Vale a pena ir durante a semana em Morretes, tipo uma quarta-feira? Os restaurantes e lojas funcionam normalmente durante a semana ou somente sábado e domingo?

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    1. Gisele, eu não poderia afirmar, mas quase duvido que as coisas não estejam funcionando normalmente. inclusive o passeio deve ser mais tranquilo em dias de semana, o trem, lojas e restaurantes menos cheios.

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  10. Caro Robson, eu e minha esposa (63 anos) iremos para Curitiba na ultima semana abril 2016, queremos conhecer Marretes.
    No trem tem desconto para Melhor Idade? na classe turística quanto fica a passamento por pessoa.
    Grato
    Paulo Carvalho - pcemprestimo@hotmail.com

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    1. Oi Paulo. Para informações referentes às passagens do passeio de trem, você deve entrar em contato com a empresa Serra Verde Express, veja o link no texto desta postagem.

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  11. Parabéns pelas fotos e texto! Muito bacana!
    (Dayson - Piracicaba/SP)

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  12. Realmente Prof. Dimas, também notei alguns sinais de descaso. De qualquer forma ainda é um passeio muito interessante. E eu, pessoalmente, gosto de ficar tentando imaginar como eram aquelas construções nos seus "tempos áureos"

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